quarta-feira, 6 de maio de 2009

Até Já?

Quando chegava há uns meses atrás à Irlanda não pensava que me viesse a ser tão difícil escrever este texto. Há algo na Èire que se nos entranha, que nos envolve e nos torna difícil partir, quase como se o terreno pantanoso das chuvas nos enterrasse os pés e nos impedisse de andar sem escorregar sempre para trás. Alguns dirão que são as gentes. Más línguas! Com certeza as mesmas que dizem que, por aqui, elas "são homens" e eles "mulheres". Só porque elas são livres. Só porque são predadoras. Só porque não se deixam julgar. Só porque não passam despercebidas quando entram. Eu cá gosto delas, gosto da sua energia, apesar de abominar o seu sentido de moda...vai daí o problema é eu nunca ter sido grande apreciadora de amarelo florescente. Deles diz-se que limpam a casa, cozinham e que depois, apagados no brilho do sexo oposto, se afogam nos copos de cerveja só para terem coragem de fazer um avanço. Eu só os vi como afáveis e conversadores, sempre por detrás de um pint, é certo, mas isso por cá é feitio e não defeito. Se calhar, só assim toleram a calma constante da terra que, a braços com a histeria da recessão, ainda não percebeu o segredo do Tigre Celta. Não que isso agora importe, neste tempo em que se pagam os desrespeitos às crenças divinas dos últimos anos.
Também por cá se gastou mais do que se tinha. Se compraram carros, se vestiu o armário e se criaram ilusões de que nunca mais os tempos da Fome da Batata iriam voltar. Agora os mercados tremem menos do que a alma de irlandeses que, habituados a tudo, não querem voltar à pobreza, quase como se vivessemos num país de "novos ricos". Vêem-se os primeiros sinais de racismo e xenofobia já no final do túnel e não devemos admirar-nos com a possibilidade de tempos difíceis quebrarem a calma dos prados que rodeiam as cidades. A verdade é que se calhar não vai ser nada. Muito provavelmente a economia recuperará mais depressa que as feridas do passado difícil que ainda se lê nas rugas.
Do que será da Irlanda saberei eu tudo, em casa, sentada no sofá, apertada nas saudades das pessoas que por aqui conheci, dos amigos que pelo mundo espalhei e que, receio bem, não voltarei a ver. Maldita mania esta dos portugueses se ligarem às coisas quando sabem de antemão que elas não são mais do que uma passagem.

Feicfidh mé thú Èire



To build a home - Cinematic Orchestra

A listagem que faltava

Eu sempre fui uma fã das listagens. Não que o gosto pelo jornalismo quase esquemático tipo Elle, Cosmopolitan ou Vogue abone muito em meu favor, mas a verdade é que não resisto a uma leitura de qualquer artigo que me apresente as dez coisas que devo evitar quando vou a um supermercado, os 20 sítios a conhecer no mundo, os 15 discos obrigatórios na prateleira ou as cinco dicas para ficar mais parecida com a Scarlett Johansson (reparem que só ponho cinco, porque, de facto, a semelhança entre ambas é assustadora). Digámos que é daquelas coisas que fazem parte dos nossos instintos e que, por muito que as tentemos combater, não conseguimos ultrapassar. Aliás, é por esta razão que tenho evitado uma adesão ao Meo, pois receio ficar verdadeiramente viciada nesse portento do entretenimento norte-americano que é o canal E!, onde grande parte do dia é passado a mostrar o top ten das estrelas mais trashy ou mais sexy ou mais qualquer coisa.

E tudo isto apenas para introduzir o texto que se segue...

As 6 razões para conhecer a Irlanda

1. Paisagens: Terra de extensos prados verdejantes, as paisagens naturais irlandesas conseguem ser quase breath taking, mas desenganem-se os que acham que tudo se acaba nos campos. A verdade é que nunca se sabe onde podemos encontrar um castelo ou uma falésia a rasgar o mar.

2. Arquitectura e edifícios: são de todas as cores por aqui e dão uma ar colorido e bem disposto a qualquer rua, como que a contrastar com o cinzento carregado do céu. Não que se encontrem muitos espaço de interesse histórico ao estilo europeu tradicional, mas os centros das cidades são, tipicamente, espaços a conhecer.

3. Pessoas: simpáticos e hospitaleiros, os irlandeses estão sempre dispostos para uma boa conversa, principalmente depois de uma ou duas Guiness. Referência especial à beleza feminina, um segredo para muitos homens que continuam a correr atrás de italianas e raparigas do "bloco de leste".

4. Scones: Um vício que se entranha sem darmos conta.

5. Estilo de vida: sempre fui fã do horário 9am as 5pm, mas agora sou acérrima defensora deste estilo de vida que nos permite ter, de facto, uma vida. Novidade para os habituados a passar quase a totalidade do dia no local de trabalho, ou no seu caminho, parece impossível pensar em chegar a casa com energia para sair, correr, passear ou simplesmente ficar na conversa.

6. Guiness: quando bebemos um pint, ficamos sempre com a sensação de que comemos uma refeição completa, com sopa e sobremesa incluída.

As 6 razões para fugir a sete pés da Irlanda

1. Comida: Na irlanda o acto de comer é pura e simplesmente uma necessidade primária. Comer uma refeição completa ou uma sanduíche com qualquer coisa lá dentro é precisamente o mesmo para um irlandês. Uma ideia que causa uma certa estranheza a mediterrânicos habituados a passar bons momentos à volta de uma mesa enfeitada com vinho e pratos a fumegar. Aliás só assim se entende que o prato típico do St Patricks Day seja bacon cozido com couve cozida.

2. Tempo: Não porque chove muito, mas pela inconstância do clima. Num mesmo dia atravessamos as 4 estações do ano o que é, honestamente, um tormento.

4. Café : Simplesmente horrível

5. Nível de vida: O preço médio das coisas é muito elevado, tendo em conta o poder de compra português. Confesso que ainda me faz confusão comprar carne e maças à unidade, pagar 8 euros por azeite e 28 euros por duas lulas e quatro postas de bacalhau fumado.

6. A falta de sentido de humor dos irlandeses: Não são fãs de ironia e, na maior parte dos casos, não percebem o sarcasmo. Torna-se difícil dizer piadas por esta terra, uma vez que é preciso depois explicar que não era uma ofensa.

Feicfidh mé thú